Alice, quando saiu de casa, mal sabia das aventuras que a esperavam alí, bem pertinho, na toca do coelho... E nem precisava se esforçar pra imaginar coelhos brancos ou velhas lagartas cachimbeiras... eles estavam alí, a espera do que fazer, absortos na ideia fixa de transformar esse mundinho quieto. Mas ela não disse não. Não ameaçou voltar pra casa, não fez bico e não disse 'tô de mal' pro coelho. Ela foi.
E nada foi acaso, ou fruto da imaginação de ninguém... tudo aconteceu de fato. Porque as coisas mais imagináveis são as que de fato acontecem. E não me valho de autores outros pra fazer citações de ideias inteligentes. Não ouso mencionar doutores ou fazer apologia à velha teoria de que Lewis Carrol era um velho barbudo e pedófilo, numa obra alusionada à adolescência.... hoje, me reservo o direito de fazer uso de velhos e novos clichês. Sim, é tão bom ser um clichê.
Mesmo que ao acordar, a frase de boas-vindas ao dia seja: "Você é mesmo uma Alice, nesse mundinho cor-de-rosa. Cresce, criança! Absorventes não custam 40 dólares."
Não, absorventes não custam 40 dólares, cupcake em excesso engorda e brincar no escuro é muito mais perigoso do que aparenta ser. Mas e daí?! Se Alice tivesse dado mais atenção aos pés doídos do que ao convite, ela não teria visto o que viu, vivido o que viveu.
E se o bolinho que fazia crescer, tivesse um pouquinho menos de açúcar... ela teria pensado duas vezes antes de comer. "O que faz bem é o que faz mal", ouvi dizer por ai, nessas terapias de bambu. E não é que é verdade?
Se Wonderland não fosse mistério, não despertaria curiosidade. Se fosse assim como o mundo real, onde tudo é certo e imutável, não aumentaria desejo, não causaria dúvidas, ninguém desejaria ir até lá. E qual é a graça de se visitar um lugar que simplesmente parecido com o nosso? Qual é graça de viajar de pés no chão? O bom mesmo é pular na cama até doer os pés, vestir a mesma blusa velha, ir pra casa da amiga, recusar um convite, aceitar outro... fazer aquela besteira, cometer aquele deslize, bem ali na frente de todo mundo. O bom mesmo é ficar com medo, mas não estar nem ai, por um curto período de tempo.
Wonderland é a terra da maravilhas, dos bolinhos que fazem crescer e da bebida que faz diminuir. E sim, ocasionalmente aparecem alguns monstros... mas o bom é crer que no final, com a espada mágica, derrotamos o inimigo, sacudimos a poeira e voltamos pela toca do coelho, sem nenhuma cicatriz.
O ruim da história, é que nem sempre o país das maravilhas está ao alcance das mãos... ou há um coelho branco chamando pra brincar. Mas a arte... a habilidade que só é dada a alguns... é sair da fantasia livre de cicatrizes, com a espada em punho e um monstro morto.
Ninna... o bolinho dizia: "Me coma." Mas sei lá... tinha açúcar de menos!
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